A Graça de Deus é próxima e pessoal. Foi por ela que Cristo nos alcançou. Esta incomensurável condição do Pai nos amar a ponto de abandonar a Sua glória e morrer em nosso lugar ainda é um dos mais absurdos atos que o ser humano pode contemplar em sua existência. Por isso o Evangelho é loucura para os homens. Nos debrucemos na certeza de que o Amor do Divino é antigo e imedível.
Pensando nesta Graça, trago uma passagem belíssima da obra do funileiro de Bedford, na Inglaterra, que há mais de 300 anos foi inquietado por Deus para escrever a célebre obra "O Peregrino", falo de John Bunyan.
O livro traz um personagem central que é “CRISTÃO”, um homem que vive uma peregrinação da terra para o céu, do pecado para a salvação, e está sujeito a lutas e armadilhas. Nesta trama, CRISTÃO se depara com inimigos (Legalidade, Hipocrisia), e também com amigos, dentre eles, a segunda pessoa do diálogo que iremos notar, o “INTÉRPRETE”, que o incentiva no progresso de sua caminhada.
Veja que magnífico diálogo abaixo e contemple um dos mais belos exemplos de amor, perdão e Graça:
"Então Intérprete o tomou pela mão e o levou para uma sala bem grande, cheia de poeira, pois jamais era varrida.
Depois de examiná-la, Intérprete mandou um homem varrê-la. Ora, começando ele a varrer, o pó a ergueu tão abundantemente que o Cristão quase sufocou. Disse então Intérprete a uma jovem que estava ali ao lado:
- Traga água e borrife um pouco na sala. Feito isso, a sala pôde ser varrida e limpa com prazer.
CRISTÃO: O que significa isso?
INTÉRPRETE: Esta sala é o coração do homem que jamais foi santificado pela doce graça do Evangelho. A poeira é seu pecado original e as corrupções mais íntimas que macularam todo o homem. Aquele que começou a varrer primeiro é a Lei, mas o que trouxe a água e a borrifou, é o Evangelho. Ora, você mesmo viu que assim que o homem começou a varrer, a poeira levantou, tornando impossível limpar a sala. Você quase sufocou. Isso foi para mostrar-lhe que a lei, em vez de limpar (pela sua ação) o coração do pecado, na verdade o faz reviver, o fortalece e o amplia na alma, ainda que o revele e proíba, pois não dá força para subjugar.Depois – continuou ele – você viu a jovem borrifar a sala com água, podendo então limpá-la com prazer. Isso é para mostrar-lhe que, quando o Evangelho entra no coração com sua influência doce e inestimável, o pecado é conquistado e subjugado, da mesma forma como você viu a jovem fazer pousar a poeira borrifando o chão com água. A alma se faz limpa pela fé, preparando-se consequentemente para que o Rei da Glória e habite."
[O Peregrino, p.35-36]
Que nunca se esqueçamos dAquele que com a água borrifou a sala de nossa alma, nos limpou de toda sujeira do pecado e nos ensinou a Sua Maravilhosa Graça.
Sem a intervenção dEle em nossas vidas a sujeira de nossa alma nos faria perecer.
Somo gratos, Aba.
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Misael Antognoni,
Editor do Candiêro Teológico.
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